Dinheiro do idoso: Acha o assunto complicado e difícil de falar? Se torna mais complicado ainda quando familiares utilizam do benefício do idoso para fazer empréstimos para uso próprio. Pesado né? Mas acontece, e por quê aqui seria diferente? 😐
Quando inciei os cuidados com meu avô, ainda que sem pensar muito no que isso acarretaria, decidi não pedir o cartão da aposentadoria dele para quem o detinha. 💳
ATENÇÃO: Esse é o maior erro que você pode cometer, porque no final todo dinheiro ainda é pouco! 💸
No entanto, por sorte minha, em certo dia Vôvs me questionou a respeito do seu cartão:
VÔVS: Renan, você sabe onde é que tá o meu cartão? RENAN: Qual cartão, vô?
VÔVS: O cartão do meu benefício, de receber a aposentadoria…
RENAN: Ah vô… ficou lá… 😑
VÔVS: É mais eu to aqui, fazendo companhia, morando com vocês, 👪 “tão” aqui me ajudando… eu precisava de colaborar com alguma coisa né? pagar uma energia, as despesas…
Pois bem, reparem aqui, que o DINHEIRO do idoso além de manter as despesas também mantém algo muito mais valioso e que ninguém dá importância: A SUA DIGNIDADE. 💜👴🏻
É claro que meu avô morando com a minha família, não iríamos sequer pensar em cobrar energia, é só uma pessoa a mais… a diferença não era tanta nas despesas. Sem contar que seu dinheiro ficaria todo para suas necessidades, que não eram poucas.
Resultado: na época não tive coragem de seguir em frente com o pedido para o familiar que detinha os cartões do meu avô. A partir disto, meu avô mesmo decidiu fazer este pedido. Não satisfeito em devolver apenas um cartão, o indivíduo em questão ficou dizendo para o meu avô que “ali não era a casa dele”, que ele “deveria ir embora”. Interessante ele frizar onde era a casa casa do meu avô somente depois que o mesmo exigiu os seus cartões, não é? É o que acontece em muitos lares. O idoso vai morar com algum familiar e ninguém se pronuncia, mas quando se de pegar o benefício (que é um direito do cuidador fazer esta exigência), a história muda.
Ao entregar o cartão para o meu avô, ainda se fez de coitado.
Meu avô ficou mal, e decidi conversar com ele a respeito disso:
RENAN: Vô, quem tem mais saúde, idade e disposição para trabalhar hoje em dia? Você ou o fulano que tava com seu cartão? VÔVS: Uai, é ele né? A gente já trabalhou muito nessa vida… RENAN: Pois é vô, e agora a sua aposentadoria é o SEU DIREITO! É pra usar para as coisas que você precisar… VÔVS: É… pois é… ele ficou meio cabisbaixo… assim… 😔
RENAN: Mas não precisa preocupar não Vôvs, ele tem o dinheiro dele… do emprego que ele trabalha. Ele não precisa de ajuda.
VÔVS: E eu ainda falei isso pra ele, que se brincar era ele que tinha que tá me ajudando…
RENAN: Então você fez bem, vô… as vezes a gente precisa falar essas verdades, e por mais que elas doam, elas precisam ser ditas! Não vamos preocupar com isso não.
VÔVS: Tá certo…
ISSO SE CHAMA CHANTAGEM EMOCIONAL. E é grave.
Ele entregou apenas um cartão, o da aposentadoria do meu avô. O cartão da pensão da minha avó ainda permaneceu com ele. Por volta de alguns meses depois, eu o pedi de volta. Coisa que eu já deveria ter feito há muito tempo… Mas fica de lição e conselho para vocês: Exijam o cartão do benefício do idoso, se necessário, entrem na justiça para reverter esta situação.
DICA: Para o meu avô achar que eu estava usando o dinheiro para ajudar em casa, eu sempre falava:
👦:“Vô, eu to indo na padaria, aí eu peguei umas moedinhas na sua gaveta pra comprar o pão tá?” 👛 🥖🍞
e ele ficava todo feliz em colaborar:
👴🏻: “Ôh, sô! Fica a vontade viu? Pega lá!” 💜
A HISTÓRIA NÃO ACABA POR AQUI E O PIOR AINDA ESTAVA POR VIR.
Quando comecei a acompanhar o meu avô para receber sua aposentadoria, o valor recebido era em torno de R$ 700,00/R$ 800,00 (não me recordo muito bem, mas não passava disso). Apesar do pouco dinheiro, meu avô ia sempre animado receber sua aposentadoria, se arrumava e seguíamos rumo ao banco para receber. Até chegar o momento de não conseguirmos mais ir. DETALHE: não por dificuldades do meu avô caminhar mas por falta de colaboração de quem nos levava…
(pois eu não dirigia e precisávamos ir de carro). As pessoas sempre vêem dificuldade em levar o idoso para os lugares, e no caso me falaram:
“Não tenho tempo pra ficar esperando lá não. Você tem a senha, não precisa dele ir. Vai lá pega o dinheiro e entrega pra ele.”
O dinheiro nos anos iniciais ficava todo em consultas, porque não tínhamos um diagnóstico exato. Por isso, todo mês era uma consulta diferente! Isso quando não tínhamos que ir em médicos especialistas em outras áreas, como urologista, cardiologista, por exemplo!
OFF: Neste vídeo comento sobre a dificuldade que tivemos no diagnóstico da doença de Alzheimer no meu avô:
Conforme os meses foram passando percebi que havia um aumento no valor recebido.
PERA AÍ, o dinheiro da conta tá aumentando?
Okay, não que eu estivesse reclamando, mas fui verificar o que estava acontecendo.
Chegando no INSS me deparo com a seguinte informação: Atendente do INSS: “Ah… é porque uma das parcelas do empréstimo acabou.” RENAN: Empréstimo?
Eis que ela me apresenta a lista de empréstimos que fizeram em nome do meu avô. Digo em nome porque o dinheiro não foi usado em seu benefício, mas foi assinado por ele. Por quê? Porque ele sempre fez o que lhe pediam.
E aqui entra a “função” do idoso nos lares brasileiros:
VIR COMO A SALVAÇÃO FINANCEIRA DA FAMÍLIA. Vai me dizer que nunca ouviu isso em nenhum lugar?
Me lembro inclusive de ver uma campanha de um banco, onde em um panfleto tinha a frase: “O vovô ficou empolgado em fazer o empréstimo para o quarto da netinha”. Já formado em publicidade e propaganda, comentei:
👦: “E será que o vovô teve outra opção?”
“Mas Renan, porque você não foi correr atrás disso, pra desfazer, pedir pra diminuir o valor das parcelas, etc?” Porque eu estava cansado. Estava esgotado fisicamente e emocionalmente… não tinha forças pra mais nada a não ser terminar minha faculdade, cumprir com os estágios obrigatórios, e passar noites e noites sem dormir com os delírios que aconteciam pela madrugada. Os primeiros anos foram os mais difíceis pra mim. Quem me conhece sabe o quanto sempre fui magro, e na época, ainda pesava 10 kg a menos. Tudo isso, aos 19 anos de idade.
Eu não tinha ninguém que pudesse me auxiliar com esse tipo de situação. Infelizmente, a gente deixa passar por não ter forças pra seguir em frente. Sem contar, que todos os empréstimos foram feitos antes do diagnóstico da doença, e todos assinados por ele.
Nem sei como faria para provar que os empréstimos não foram feitos em seu benefício.
(se tiver algum advogado aqui, por favor deixa um comentário ao final deste post para orientar o pessoal!)
Me dói pensar no quanto eu poderia ter contribuído com auxílio de profissionais particulares para o meu avô. No decorrer dos anos os valores foram aumentando e quase chegaram ao que ele deveria receber: O total de R$ 1.900,00.
Mas esse valor veio INTEGRAL somente no mês em que ele morreu.
Estranho né? Parece até que ele esperava quitar a dívida para poder partir em paz. 🏦⛼
Nunca lhe faltou nada, mas ele poderia ter tido muito mais se recebesse o valor TOTAL desde o primeiro dia que em que comecei a cuidar dele.
Ainda assim consegui comprar assento de espuma viscoelástica 💲 (R$ 900,00), cadeira de banho 💲(R$ 400,00), cama hospitalar 💲(R$ 1.900,00), reforma do quarto para melhor acomodação 💲(por volta de R$ 3.000,00 pois nem piso em seu quarto tinha!)…
fora as fraldas, onde o gasto mensal era de R$ 450,00… e por aí foram inúmeros outros produtos comprados, fazendo economias daqui e dali!
Se ele tivesse todo o dinheiro dele desde o início, eu não precisaria esperar “juntar dinheiro” para comprar estas coisas todas.
⚠️Fica aqui o alerta pessoal, se hoje você esbanja o dinheiro do idoso porque ele não tem tanto gasto, PENSE BEM! Pois amanhã você não conseguirá arcar com todos os custos. E ainda poderá ser cobrado por isso!
É melhor poupar enquanto tem! ⚠️
Algo me fez refletir muito sobre tudo isso que aconteceu com meu avô e o uso do seu dinheiro: Enquanto aqueles que o abandonaram pegaram, usaram e fizeram o que tiveram vontade com o dinheiro dele, eu que estava ali cuidando diariamente não tinha coragem nem de pegar dinheiro pra cortar o meu cabelo (que na época não passava de R$ 10,00 e por muitas vezes eu não tinha nem isso, pois não podia trabalhar e não recebia auxílio nenhum). Finalizo com uma reflexão acerca de tudo o que nos aconteceu:
Existe justiça para o cuidador? Vimos recentemente que o projeto de regulamentação da profissão de cuidador não foi aprovado pela presidência.
Se nem o cuidador profissional possui amparo, qual a segurança que o cuidador familiar (informal) tem?