Recentemente acompanhamos o viral envolvendo o FaceApp. Um aplicativo de edição de fotografias que possui um filtro que nos dá a ideia de como ficaremos alguns anos mais velhos. A febre do momento chegou a ser comemorada por alguns, visto que o assunto “ENVELHECIMENTO” estava em alta.

Cheguei a uma conclusão diferente. Não é o envelhecimento que foi colocado em pauta na última semana, mas sim a estética, a curiosidade de um futuro bonito, e claro:

O HUMOR.

Dias antes foi negado na sanção presidencial, o projeto de lei que regulamenta a profissão de cuidador. As pessoas falaram sobre isso? Sim, mas de que forma? Algumas chegaram a defender a atitude, que foi justificada pelas condições que o profissional deveria apresentar, dentre elas: ser maior de 18 anos, ter o ensino fundamental completo, atestado de aptidão física e mental, ter curso técnico na área e não ter antecedentes criminais. Visto os alarmantes casos de violência contra o idoso, isso é o mínimo que a gente espera de uma pessoa que irá cuidar do nosso ente querido, certo? Sem contar, que estes são atributos exigidos na maioria das profissões.

E a pergunta ainda é a mesma:

Alguém comentou ou viralizou a notícia acima?

HUMOR E VELHICE

Quem não se lembra da velha surda ou de alguma piada envolvendo esquecimento/Alzheimer? Há quem diga que o “mundo anda chato, pois não se pode fazer piada com mais nada”. Eu creio que há limites para o humor, ainda mais com a realidade batendo à nossa porta com medicamentos sendo suspendidos, direitos de idosos mais pobres sendo retirados e por aí vai…

O envelhecimento sempre foi tratado de forma cômica, até mesmo quando o assunto são idosos com demência. É legal de se ver se for mostrado alguma cena fofa, “engraçada” ou que infantilize o idoso. Se mostrar a realidade de um idoso que precisa de cuidados em tempo integral em fase terminal de uma doença degenerativa, o que a gente ouve é:

“pra que expor dessa maneira? Acho desnecessário.”

Mas acredite: Qualquer forma de exposição é errada se não preservar o respeito e a dignidade do idoso. Não é só a realidade que te incomoda.

O ENVELHECIMENTO SÓ É LEVADO EM CONSIDERAÇÃO SE FOR CARREGADO DE MÁSCARAS QUE DISFARCEM A SUA REALIDADE.

As pessoas não estão prontas para falar sobre seu futuro, para se enxergar como o idoso que pode vir a precisar de ajuda… Elas não sabem depender dos outros, e muito menos querem oferecer este apoio. Não querem nem ver o idoso que precisa de cuidados.

A graça do filtro de envelhecimento é a falsa ideia de um futuro que envolve o que pra muitos é essencial: A IMAGEM.

A graça está em se ver como um coroa charmoso, ou uma senhora estilosa.

Se ele nos mostrasse um cuidador ao nosso lado, alterasse o fundo nos mostrando uma instituição de longa permanência ou até mesmo uma cama hospitalar, será que a resposta do público seria a mesma?

Mas quem sabe não seria esta uma maneira de refletirmos sobre como cuidamos e aceitamos ser cuidados? Ou quem sabe até, como cuidamos do nosso presente?

Creio que para isso não seja necessário um filtro de aplicativo. Basta olhar em volta, e ver o que já pode estar acontecendo na sua própria família.