A gente vê muitas imagens na internet e até mesmo propagandas, onde avôs e avós brincam com seus netos em um ambiente agradável, de muita diversão e descontração.
Mas existe uma realidade que nem todo mundo gosta de falar:
NEM TODO IDOSO GOSTA DE CRIANÇA.
Há idosos como o meu avô, que por toda a vida gostaram de criança. Tinham uma boa relação e faziam questão de segurar bebês no colo ou de tirar um tempo para brincar com eles. Mas há idosos que não possuem essa relação e a gente precisa pensar nisso antes de tentar forçar o contato entre a criança e o idoso. Analise o histórico do idoso e veja bem se ele interagia com crianças ou não. Porém, vale lembrar que muita coisa na Doença de Alzheimer é teste: ou seja, vale você tentar uma aproximação. Ficou confuso né?
Vamos lá, mesmo o idoso não tendo muito contato com crianças, vale a gente tentar uma vez. Pois, por muitos anos talvez ele só não teve a chance de estar em contato e acabou sendo taxado como uma pessoa que não gosta de crianças, quando na verdade apenas lhe faltou OPORTUNIDADE. Sobre essa tentativa que eu falo, veja se o idoso mostra interesse em falar ou brincar com a criança. Se ele não tiver uma boa reação ou simplesmente não demonstrar nenhum afeto, é melhor não forçar pois isso poderá irritá-lo causando um quadro de ansiedade e até mesmo agressividade.
E aí, vale a pena insistir?
Ah Renan, mas como assim… uma criança pode fazer muito bem ao idoso, eu não posso deixar meu filho ter contato com o meu pai/mãe só porque ele tem Alzheimer?”
Não é isso! O contato com a criança pode ser uma terapia que trará um bom resultado nas relações do idoso, se isso lhe fizer bem! Mas antes de insistir neste contato da criança com o idoso, primeiro a gente precisa saber:
SEU FILHO É REALMENTE O ANJINHO QUE VOCÊ ACREDITA SER?
Criança gosta mesmo de brincar, correr, pular, e até mesmo gritar. Agora imagine tudo isso entrando na rotina do idoso: Como esse idoso vai reagir? Sabemos que a criança tem o direito de
se divertir, ainda mais se for para passar um fim de semana na casa dos avós. Porém, a rotina do idoso deve ser respeitada!
Meu avô tinha um neto que na época em que este fato ocorreu ele tinha 3 anos.
Ele era uma criança como outra qualquer, que em determinados momentos dava alguns gritos causando um certo incômodo. Eu tentei por inúmeras vezes orientar a mãe da criança que simplesmente ignorava minhas orientações. Em determinado momento, vôvs já cansado da situação, olhou para a criança e disse:
Mas tá ficando feio desse jeito hein? – Vôvs
Pois bem, a situação que poderia ser evitada, mas não bastando tudo isso, a mãe da criança veio dizendo: “Desse jeito não dá, ele é uma criança”. E independente de ser uma criança, expliquei que ela como mãe poderia orientá-lo a não ter esse tipo de atitude na casa do vovô. Até porque, por inúmeras vezes eu fazia o contato dos dois dar certo, com o exemplo que vou citar agora.
Por conta da doença e demais problemas que aparecem junto com ela, Vôvs tomava muitos remédios, então, nos dias em que a criança em questão estava aqui eu pedia para que ele me ajudasse a cuidar do vovô, da seguinte forma:
Hey, quer me ajudar a cuidar do vovô? Então vai lá na cozinha e pede pra titia um copo d’agua pra gente dar o remédio pra ele.
Minha mãe que estava na cozinha entregava o copo a ele, que o trazia até mim. É claro que a ajuda dele se resumia a me trazer um copo d’água (e não em dar o remédio). Mas para ele aquilo já era MUITO GRATIFICANTE, pois ele estava de fato ajudando o vovô!
Em determinado momento, quando meu avô ainda não tinha problemas com engasgos e nem dificuldades em tomar remédios, eu dizia:
“Vôvs, abre a boca pra eu ver uma coisa, faz assim: AAAAH”
E ele abria a boca para que eu verificasse se o remédio foi engolido ou não. Foram necessárias cerca de somente duas vezes para que o garoto visse a situação para logo que eu acabasse de dar a água, ele dizer: “Abre a boca assim vovô: AAAAAH”
CONCLUSÃO: Percebem que não é difícil fazer a criança ter uma relação interessante com o idoso? Basta colocar os limites na medida certa e até mesmo fazer como eu fiz, pedindo ajuda no que for possível.
É IMPORTANTE ENSINAR O RESPEITO DESDE MUITO CEDO!
Tenho dois afilhados Davi e Miguel que Vôvs tinha um contato maior pois éramos vizinhos. Anos depois quando nos mudamos, as crianças cresceram e vinham visitá-lo as vezes, pois, minha comadre Nathali era a cabeleireira do Vôvs. Eles são como toda criança também: Gostam de brincar, correr, se divertir. Porém, em todas as vezes que eles vinham até o meu avô, nunca foi necessário chamar a atenção deles, eles sempre o respeitaram e sabiam o que deviam ou não fazer na presença do vovô! Meu avô sempre ficava bastante feliz quando eles vinham pedir a benção. Talvez, essa relação de respeito e entendimento sobre o que deve ou não ser feito, se dá pelo contato que eles tem com a bisavó, a Dona Maurícia uma senhora de 85 anos.
Outro fato interessante envolvendo o meu afilhado Davi, aconteceu em um churrasco na casa deles, quando ainda éramos vizinhos. Estávamos entrando em sua casa e Davi foi quem abriu o portão pra gente, segue agora a nossa conversa!
DAVI: VOCÊS NÃO VÃO ENTRAR?
RENAN: ESPERA kkk, O VOVÔ TÁ ENTRANDO!
DAVI: ELE ANDA DEVAGARZINHO NÉ?
RENAN: POIS É, A GENTE TEM QUE ESPERAR!
DAVI: É PORQUE ELE JÁ É VELHINHO NÉ?
Vôvs sorrindo confirmou:
VÔVS: EXATAMENTE! 😂
A partir daí ele foi acompanhando os passos do vôvs, por todo o caminho! Passado um tempo deixei o meu avô sentado no sofá assistindo ao Chaves, enquanto fui buscar algo pra gente comer.
Neste exato momento, Davi foi até a mesa e disse:
Gente, o vovô tá lá sozinho!
Reparem que em poucos instantes ele percebeu que o vovô precisava de estar sempre com alguém por perto! As crianças tem uma sensibilidade muito grande, se a gente souber utilizá-la de forma correta, faremos delas adultos que compreenderão a importância de cuidar do idoso, no seu momento de fragilidade.
A CRIANÇA PODE AUXILIAR EM TODAS AS FASES, BASTA VOCÊ SER CRIATIVO!
Tenho uma prima de três anos, que nos visitou ao final do ano passado, a Sofia!
Vôvs se encontrava acamado e minha mãe foi apresentá-la a ele. Ao ver que ela não se mostrou impressionada ao vê-lo sempre deitado, propus a ela que me ajudasse a cuidar dele na hora de fazer sua barba!
Como a pele dele era bem sensível, havia um preparo antes com a espuma de barbear. Coloquei a espuma no potinho, dei a ela para que mexesse a espuma com o pincel e logo em seguida a levantei e pedi que passasse na pele do Vôvs. O ato em questão não ofereceu nenhum risco e ela se mostrou muito feliz em poder ajudar. Passada essa parte, eu a desci, pedi que aguardasse e daí eu seguia com o barbear (que já não era mais feito com lâminas e sim com a máquina de barbear!). Durante todo aquele dia, Sofia demonstrava interesse em ir ver como estava o “vovôzinho”, (como ela o chamava). Sem ninguém explicar, ela sabia que de tempos em tempos devíamos olhar como ele estava, mesmo que estivesse dormindo.
No dia seguinte, ao acordar a primeira coisa que ela disse foi:
Nan, eu quero ir cuidar do vovôzinho.
De todos os relatos que dei aqui a respeito do contato do vôvs com crianças, apenas um não saiu como o esperado, porém, nem foi tanto por culpa da criança ou do meu avô, mas sim pela falta de compreensão da mãe. Antes de tentar educar as crianças, precisamos nos certificar de que os adultos que cuidam dela são pessoas EDUCADAS.
UMA ÚLTIMA DICA:
Não obrigue a criança pedir a “benção” ao idoso: O mais correto é conversar com a criança em casa e explicar tudo o que pode ou não pode ser feito na casa do vovô/da vovó!
Pedir “benção” ao idoso é um costume antigo e que deixa os idosos muito felizes por ser uma demonstração de respeito, ainda mais se vier de uma criança. Porém, se o idoso ver a insatisfação da criança demonstrando birra ou choro na hora de um simples gesto como esse, isso poderá entristecê-lo ou até mesmo deixá-lo irritado. Vale repensar se você quer realmente agradar o idoso, ou só mostrar pra ele o quanto o seu filho é exemplar (mesmo ele não sendo).